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Foto do escritorPedro Gediel

Em que Papai Noel você acredita?

Você possivelmente ainda acredita no Papai Noel, e talvez esteja achando ridícula essa afirmação agora, mas calma, ao dizer isso não quer dizer que tu acreditas que na Lapônia ou no Polo Norte exista um senhor barrigudo, barbudo e que vive uma pacata vida com sua esposa e seus amigos-funcionários (talvez hoje seriam chamados de colaboradores ou algum anglicismo qualquer) gnomos, cuida de suas renas voadoras e faz manutenção em seu trenó mágico para que possa, na noite de natal, entrar pela tua chaminé, janela, basculante, e entregar os teus presentes. Essa mitologia natalina é a camada mais superficial de uma crença que é muito arraigada na sociedade em que vivemos e que tem nos adultos a grande base de sustentação, são estes que de fato acreditam no “bom velhinho”.


A própria representação que conhecemos dessa deidade fala muito sobre os valores que preconiza.Falamos aqui de um senhor branco, bem alimentado, casado, apresentado como proprietário de uma fábrica na qual trabalham funcionários que são sempre representados de forma exageradamente feliz, plenos de satisfação e de contentamento ao realizar o seu trabalho, muito menores, e aqui tem uma importante mensagem, que seu bom patrão Papai Noel e que aparentemente estão permanentemente trabalhando em um êxtase laboral infinito. O natal é vendido como uma festa de fartura, e para participar dela tu precisas consumir, comprar comidas, presentes, bonsais de plástico, luzinhas, estrelinhas, um presépio.


Merry Old Santa, Thomas Nast, 1881

Essa imagem de um bom patrão, bom marido e bom velhinho foi construída ao longo do tempo em meio a uma série de representações de Papai Noel, confundindo-se com outras deidades como Odin, Baco e São Nicolau e tendo sido representado de uma série de formas através dos tempos. O hegemônico personagem de roupa vermelha apareceu pela primeira vez no trabalho do cartunista alemão Thomas Nast ainda no século XIX e posteriormente foi eternizado pela imagem feita pelo ilustrador estadunidense Haddon Sundblom em 1931, a partir da propaganda da gigante de refrigerantes Coca-Cola, criando o Papai Noel que hoje enfeita as casas, estabelecimentos comerciais e que recebe crianças nos shoppings.


A crença dos adultos no Papai Noel tem um papel pedagógico que é importante de ser salientado, nós adultos que acreditamos nesse Papai Noel que bebe Coca-Cola e come aves que remotamente lembram um peru, ensinamos às crianças que o Natal é uma grande festa de amor e de fartura, mas esse amor e essa fartura são condicionais, exigem bom comportamento para que se possa participar. Incluímos as crianças na nossa crença e em nossos rituais principalmente a partir do presente e lhes ensinamos que esse é o momento em que a mão invisível do mercado está aberta, que a abundância transbordante do estilo de vida consumista lhes agracia com brinquedos e guloseimas e vamos ensinando, ano a ano, que os frutos da maravilhosa sociedade de consumo são mais doces para quem se comporta e é obediente.


Não queremos com esse texto acabar com a festa nem criar um manifesto contra pinheiros, bolinhas ou qualquer coisa do tipo, queremos criar uma reflexão acerca da forma como nos relacionamos com o consumo, uma pausa para que, dessa vez, comemoremos o que queremos, da forma que queremos, ao invés de participar de uma festividade protocolar pré-fabricada e importada. Se trata de um convite à ressignificação desse momento de troca e de confraternização e um convite a pensar em uma lógica de consumo consciente, investindo em projetos que almejam uma sociedade de fartura e abundância reais, universais e permanentes como o da Editora Coragem.

Desejamos a todos boas festas e um ótimo 2021! Cuide das pessoas que ama, fique em casa!


Nós, da Coragem, indicamos também essas outras iniciativas para um consumo mais humano:


Referências:

Um guia Anarquista para o Natal, de Ruth Kinna, disponível em:

Passos, S. C., Leite, R.S. & Pinto, M. de R. (2020). Personal values and gift giving act: a proposed connection. Estudios Gerenciales, 36(155), 218-228. Disponível em:

http://www.scielo.org.co/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0123-59232020000200218&lang=pt

BATINGA, Georgiana Luna; PINTO, Marcelo de Rezende; RESENDE, Sara Pimenta. Natal, consumo e materialismo: uma análise discursiva de cartas infantis de Natal. Rev. bras. gest. neg., São Paulo , v. 19, n. 66, p. 557-573, Dec. 2017 . Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-48922017000400557&lng=en&nrm=iso

A Civil War Cartoonist Created the Modern Image of Santa Claus as Union Propaganda, de Lorraine Boissoneault. Disponível em:

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